Dois séculos da psicologia da criança

 A criança do século XXI tornou-se um bem precioso, um sujeito por direito próprio, um objeto de desejo e o centro de todas as atenções das famílias.  Este é o credo que emergiu na maioria das sociedades contemporâneas, durante as tremendas mudanças demográficas, sociais e culturais que ocorreram.  Por quase dois
séculos, o seu desenvolvimento, a sua educação, os cuidados que lhe devem ser dispensados são objetos de inúmeras pesquisas e publicações.

 A acreditar no historiador Philippe Ariès, foi entre os séculos XVII e XVIII que a especificidade da infância começou a ser reconhecida.  Mesmo que as questões educacionais sejam discutidas desde Platão, as famílias só viam a criança como um adulto em miniatura: o bebê?  Um trato digestivo ou, na melhor das hipóteses, “uma coisinha engraçada à criança?  “Uma pessoa ignorante para educar” para professores....

 Entre os primeiros a contrariar esta representação, Jean-Jacques Rousseau, no seu Émile (1762), critica os pedagogos que “procuram sempre o homem na criança, sem pensar no que ela é antes de ser homem...” O seu famoso fórmula, “O homenzinho não é simplesmente um homenzinho”, faz dele o precursor da psicologia infantil.  Suas concepções marcarão profundamente o primeiro
reflexões científicas e servirão de modelo para muitos psicólogos.  Porém, foi necessário esperar meio século para que a criança se tornasse objeto de ciência, quando nasceram as ciências humanas e a psicologia.

Século XIX: a criança, reveladora da evolução

 As primeiras questões levantadas, no final do século XIX, foram sobretudo de natureza evolutiva.  Como o estudo do desenvolvimento infantil pode nos ajudar a compreender o desenvolvimento da espécie humana?  A popularidade da “teoria da recapitulação” constitui um momento fundador.  Iniciado por Ernst Haeckel, discípulo alemão de Charles Darwin, argumentou que o desenvolvimento do indivíduo (ontogenia) é a recapitulação acelerada da história da humanidade (filogenia).  É com isso em mente que, no século XIX, os cientistas multiplicaram as monografias dos seus próprios filhos.  Tal como Darwin debruçado sobre o berço do seu filho Doddy, eles procuram compreender como nascem a linguagem, as emoções, a consciência...

 Na Europa e nos Estados Unidos, a psicologia infantil está em ascensão.  O seu crescimento assenta num duplo desejo: por um lado, utilizar tudo o que descobrirmos para compreender a evolução da espécie humana;  por outro lado, utilizar esse conhecimento para modificar o estatuto da criança e o seu cuidado educativo.

 500 trabalhos foram notados por Édouard Claparède em 1902, mais de 1.200 em 1926. Entre 1880 e 1914, nada menos que 29 periódicos especializados em psicologia infantil foram publicados no mundo ocidental.  Em 1998, o Handbook of Chitd Psychology de William Damon compreendia quatro volumes, listando mais de 20.000 referências e 10.000 autores...



 A criança do século XXI tornou-se um bem precioso, um sujeito por direito próprio, um objeto de desejo e o centro de todas as atenções das famílias.  Este é o credo que emergiu na maioria das sociedades contemporâneas, durante as tremendas mudanças demográficas, sociais e culturais que ocorreram.  Por quase dois

séculos, o seu desenvolvimento, a sua educação, os cuidados que lhe devem ser dispensados são objetos de inúmeras pesquisas e publicações.


 A acreditar no historiador Philippe Ariès, foi entre os séculos XVII e XVIII que a especificidade da infância começou a ser reconhecida.  Mesmo que as questões educacionais sejam discutidas desde Platão, as famílias só viam a criança como um adulto em miniatura: o bebê?  Um trato digestivo ou, na melhor das hipóteses, “uma coisinha engraçada à criança?  “Uma pessoa ignorante para educar” para professores....


 Entre os primeiros a contrariar esta representação, Jean-Jacques Rousseau, no seu Émile (1762), critica os pedagogos que “procuram sempre o homem na criança, sem pensar no que ela é antes de ser homem...” O seu famoso fórmula, “O homenzinho não é simplesmente um homenzinho”, faz dele o precursor da psicologia infantil.  Suas concepções marcarão profundamente o primeiro

reflexões científicas e servirão de modelo para muitos psicólogos.  Porém, foi necessário esperar meio século para que a criança se tornasse objeto de ciência, quando nasceram as ciências humanas e a psicologia.


Século XIX: a criança, reveladora da evolução


 As primeiras questões levantadas, no final do século XIX, foram sobretudo de natureza evolutiva.  Como o estudo do desenvolvimento infantil pode nos ajudar a compreender o desenvolvimento da espécie humana?  A popularidade da “teoria da recapitulação” constitui um momento fundador.  Iniciado por Ernst Haeckel, discípulo alemão de Charles Darwin, argumentou que o desenvolvimento do indivíduo (ontogenia) é a recapitulação acelerada da história da humanidade (filogenia).  É com isso em mente que, no século XIX, os cientistas multiplicaram as monografias dos seus próprios filhos.  Tal como Darwin debruçado sobre o berço do seu filho Doddy, eles procuram compreender como nascem a linguagem, as emoções, a consciência...


 Na Europa e nos Estados Unidos, a psicologia infantil está em ascensão.  O seu crescimento assenta num duplo desejo: por um lado, utilizar tudo o que descobrirmos para compreender a evolução da espécie humana;  por outro lado, utilizar esse conhecimento para modificar o estatuto da criança e o seu cuidado educativo.


 500 trabalhos foram notados por Édouard Claparède em 1902, mais de 1.200 em 1926. Entre 1880 e 1914, nada menos que 29 periódicos especializados em psicologia infantil foram publicados no mundo ocidental.  Em 1998, o Handbook of Chitd Psychology de William Damon compreendia quatro volumes, listando mais de 20.000 referências e 10.000 autores... (Grandes dossiês das ciências humanas n*54, maio 2019.

Comentários

Postagens mais visitadas