ESTUDOS SOBRE CANCER DE MAMA


 Um RNA não codificante teria um papel epigenético* no desenvolvimento de tumores agressivos, particularmente no câncer de mama. O estudo, conduzido por pesquisadores franceses, poderia explicar de forma mais ampla a predisposição a determinadas patologias.

Os mamíferos têm dois cromossomos sexuais: as fêmeas têm dois cromossomos X, ao contrário das machos que têm um cromossomo X e um cromossomo Y. Conhecemos o papel de um RNA não codificante específico, chamado XIST, para iniciar a inativação de um dos dois cromossomos X femininos . O objetivo dessa inativação é bloquear a dupla expressão dos genes localizados nesse cromossomo, pois isso afeta a viabilidade das células. Um novo estudo demonstra que o XIST não apenas desempenha um papel no desencadeamento dessa inativação do cromossomo X, mas também na manutenção dela durante toda a vida das células.

Para chegar a esse resultado, os pesquisadores


 do Institut Curie, Inserm, CNRS, Institut Paoli Calmettes e Aix-Marseille Universidade Univerity estudaram in vivo os efeitos de supressão do XIST usando vários técnicas: ferramentas genéticas para bloquear a expressão do XIST, ou técnicas CRISPR para interferir na expressão e silenciar o gene XIST.

A perda de XIST nas linhagens celulares estudadas** tem um efeito significativo sobre a homeostase*** do tecido humano, e afeta o desenvolvimento do tumor.

Os pesquisadores dizem que geralmente observam uma tendência de ausência do XIST nos tumores de mama mais agressivos; bem como uma reativação de vários genes X inativos.

Entre os genes reativados pela perda do XIST, os cientistas destacaram o gene que codifica o MED 14, uma subunidade essencial dentro do complexo de proteínas Mediator, que desempenha um papel no controle da expressão gênica. Consequentemente, um aumento na expressão de MED14 impactará a atividade do Mediador e então contribuirá para o distúrbio da diferenciação das células-tronco mamárias****. Este é provavelmente o resultado do aumento da ativação do intensificador. Como lembrete, os pesquisadores explicam que a expressão dos genes é controlada pelos promotores, mas também por pedaços de DNA, que podem estar bastante distantes do gene e do promotor, e que são chamados de potenciadores.

A comunicação ocorre entre promotores e intensificadores. Ao intervir nessa comunicação, o complexo Mediador permite que os intensificadores regulem finamente a expressão gênica. Para concluir, a perda do XIST leva à reativação de certos genes (no cromossomo X inativo) envolvidos na diferenciação celular e impacta no desenvolvimento de células tumorais agressivas. Sendo este mecanismo epigenético específico da presença de dois cromossomas X, estes resultados desempenham um papel importante no estudo das predisposições a patologias ligadas ao género do indivíduo, masculino ou feminino. Daí a possibilidade de pensar em novas estratégias terapêuticas.

*A epigenética estuda os mecanismos envolvidos na regulação dos genes, essenciais à ação das células e à manutenção **O tecido mamário contém canais compostos por células basais e luminais. As linhas celulares selecionadas permitem a heterogeneidade do tecido. ***Mantendo o equilíbrio entre o ambiente interior e exterior.

****A diferenciação é a capacidade de uma célula adquirir sua própria função. Uma célula-tronco pode se tornar

qualquer celula(muscular, excretora, óssea), mas é sua localização (portanto, seu ambiente e os fatores de transcrição) que vai determinar seu futuro.

SCIENCES (magazine n° 76). Janeiro de 2023.

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